Lezioni americane [1]

"Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos..."

- Italo Calvino, Leveza, Seis Propostas para o Próximo Milênio (1985)

Eu paro pra pensar na quantidade de coisas que mudaram e nas poucas coisas que permaneceram, e o que eu sinto é algo que não estou conseguindo descrever.

Acho que minha dúvida é algo assim: o que faz com que uma pessoa, um lugar ou um acontecimento permaneçam constantemente como influências no seu modo de pensar?

Será que é o sentimento de falta, de perda, de ser incompleto que elas te causam? Não é simples saudade, é pensar que naqueles momentos você esteve próximo do que você considera ideal. Mesmo que seja algo lembrado mais pela tristeza do que não deu certo do que pela satisfação de ter tentado e feito bem sua parte.

Certa tarde de viagem por lugares totalmente novos, uma noite de conversas banais de maneira apaixonada, aquele impulsivo banho de chuva a troco de nada, essas e outras coisas que são marcantes pelo desprendimento e por terem sido feitas por nenhum motivo a não ser a simples vontade de fazê-las.

Esse ano tem tido muitas oscilações de coisas boas assim e outras ruins de maneira oposta. Eu estou satisfeito e quero muito mais, ao mesmo tempo. Ser / não ser, estar / não estar. Objetivos definidos, meios ainda não. E o tempo vai passando.

Leituras

Fim-de-semana divertido e tranqüilo, que bom, eu precisava mesmo de um assim. Estou relendo algumas coisas e hoje nós aqui de casa compramos dois livros, os dois me interessam bastante. Um é uma coletânea de 64 contos de Rubem Fonseca. O outro é chamado A Casa das Belas Adormecidas, de um autor japonês ganhador do Nobel de literatura, Yasunari Kawabata.


Trecho do conto A Hístória do Indeciso, do livro O Castelo dos Destinos Cruzados, que eu reli recentemente, do genial Italo Calvino:

Tremor de mãos, encanecimento precoce eram traços bem leves de quanto o nosso desventurado comensal havia passado: numa mesma noite havia sido esmiuçado (espadas) em seus elementos primários, passara através das crateras de vulcões (copas) por todas as eras da terra, arriscara ficar prisioneiro na imobilidade definitiva dos cristais (ouros), retornara à vida na lancinante floração do bosque (paus), até retomar sua forma e identidade humana na sela do Cavaleiro de Ouros.

Mas será de fato ele e não antes um sósia que, mal se viu restituído a si mesmo, se põe a avançar pelo bosque?

- Quem és?
- Sou o homem que devia esposar a jovem que não havias escolhido, que devia seguir pelo outro caminho da encruzilhada, dessedentar-se no outro poço. Por não teres escolhido, impedistes minha escolha.
- Para onde segues?
- Para outra hospedaria diferente daquela que encontrarás.
- E onde te encontrarei?
- Enforcado noutra forca que não naquela em que serás enforcado. Adeus.

Quarta-feira Cinza

Dia tenso, estranho, cansativo. Tempo nublado e chuvoso. Acordar muito cedo, passar muito tempo na UFRN. Estar pontualmente às 14h na Wise Up. Dar uma aula pela segunda vez - dessa eu me saí melhor, mas ainda muito nervosismo atrapalhando. Não deu certo combinar com os amigos de ir ver o jogo no Chicken-In. Talvez tenha sido melhor assim, nesse caso. E o jogo, ah, o jogo... quanta raiva que me deu, por conta das oportunidades perdidas pelo "meu" time, e pela derrota por 2x1 principalmente.

Essa semana, até esse ponto, parece que foi se desenhando assim, pra culminar (espero que tenha sido mesmo o ponto culminante) nessa noite em que eu estive ansioso e irritado. E eu penso que não tem a ver com o jogo simplesmente, mas com tudo que tem me deixado meio pra baixo. É um sentimento meio assim de peso, de falta de horizonte seguro, de um certo cansaço e de consciência das tantas coisas que eu tenho que fazer, por mim e por quem convive comigo.

Ainda bem que existem pessoas que conseguem me deixar motivado e feliz constantemente. E eu não acho constrangedor admitir que preciso estar buscando nos outros essas coisas positivas. Acho que estou - ainda - numa fase difícil pra maioria das pessoas, no que diz respeito à vida profissional, estudos e essas coisas. Isso tem me incomodado muito, muito mesmo. É só o que me falta definir e conquistar, ao meu ver. O que eu já tenho, é questão de cuidar bem e evoluir. Mas em relação ao que me falta eu sinto quase como quem está na estaca zero. Dureza.

Lately

Duas semanas indo diariamente na Wise Up, treinamento muito interessante e proveitoso já, mesmo que ainda esteja por terminar e ser fixado. Dar aulas é muito mais complicado e complexo do que eu pensava... espero que dê certo pra mim. O pessoal é muito legal por lá, e trabalha muito bem.

Fim-de-semana ótimo, foi esse... aniversário de Elisa, muitos momentos alegres e empolgantes, outros relaxantes e tanta coisa boa junta que eu tenho pregui(...) de digitá-las.

Pra coroar, tou aqui conversando besteiras divertidas no MSN (como eu não fazia há algum tempo) e ouvindo Ojos de Brujo (idem).

Naíta (do CD Barí)

La sangre se me revela cuando me pongo a pensar
Que aquí unos tienen de tó
Y otros no tienen de ná..
Mi techo son las estrellas
Que están en el firmamento
Mi manta el agua del mar
Y mi respiración el viento
Naíta tengo que pagar
Mucho tengo que decir

Sim, tenho coisas pra dizer, mas outra hora eu escrevo mais...